terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Muro de Mônica ou a Polêmica do adeus

Se é que se vem apenas ou se é que se vai sempre, se deu assim - meio de sobressalto repulsivo - e assim surgido tal história-lembrança, por motivo que julgo desconhecido e com vaga clareza, salvo pelo impacto percebido ao cruzar de sorrisos com igual semelhança, posso e concluo que me retorna parcialmente esse fardo. É então que vamos.! Simples e melancólica, era assim naquele tempo, até ouvir alguns barulhos na vizinhança, desses de chegada de moradores. Barulhos no mundo, do mundo que não era meu. Tratava-se de gente nova. Gente que em meu mundo passava a habitar e ao entorno em princípio.
E está aí o fato, pois tenho bem clara a imagem daquele dia. Estava abrigada por um imenso quintal, com flores, pés de manga e goiaba.É nele que me encontrava com minhas pequenas idéia e, ainda que estivesse sem vontade de brincar e, ainda que, todos sempre me deixassem, fui bem ali descoberta e logo aos sete anos. Foi sentada num banco de madeira escura que pude observar o mexer e remexer nas ramagens verdes da trepadeira do muro. Surgiu primeira a ponta da escada, depois ele “Ei menina, viu minha bola?” Corri para dentro de casa, e ele continuou gritando por algum tempo. De repente, em mim, corri. E em seguida corri ao encontra de uma realidade inevitável, chamada Pedro. Sei que o tempo para ambos foi suficiente e nos ensinou tudo, ficamos amigos e não foi a muito custo. E sempre que minha mãe saia ao trabalho, eu preferia esperar que ele me chama-se, ao invés do contrário, pois ainda me restava o jardim que estava sempre limpo e pronto a novas descobertas. Quanto à empregada, dona Lúcia, vivia imersa em afazeres e pouco tempo restava para mim e é claro que em termos de atenção quase me resumia. Em hora oportuna bastava um assovio e Pedro logo surgia de cima do muro, às vezes, trazendo doces e brinquedos, principalmente nos fins de tarde. .Lembro-me de uma vez que motivada por fortes dores no abdômen fiquei a ponto de febre e Pedro trouxe, com atenção paternal, ervas a pedido de dona Lúcia. Houve uma certa ocasião que me exacerbei, na verdade sem jeito de responder e sem muito repertório de vida, a uma simples pergunta “O que aconteceu com seu pai Mônica?”. A minha reação conseguiu transforma-lo em puro acanhamento. Não se pode negar certos percalços na vida - foi o que aprendi. Porém, dia após dia ia-se descobrindo tudo o que é humano, seleto e construtivo e foi assim o quanto o tempo permitiu que fosse, mas diante do desvelar dele e das coisas, estava eu diante de um carro branco, um expresso definitivo para o adeus, frio e incisivo. E ao meu redor surgiam as tristes e secas notas de um saxofone dourado tocadas a fortes sopros por um negro de cabelos esbranquiçados. A melodia ecoava cada vez mais e mais longe, me convidando a segui-la. Como realmente segui até os dias de hoje. . Todos me disseram motivos improváveis e neles questionava muito e muito, arredava-me das suspeitas, mas hoje sei que o ainda tenho como construção e como legado de meu mundo de mulher.