terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Cidade de Minuto

Diferenciar, pois sempre foi assim, bem nesse sentido que talvez as coisas acontecessem naquela cidade. A própria maneira de ser, a cidade de Brambila do Norte Velho , tinha algo de misterioso, pleno e inato; algo escondido no cheiro de mato e terra molhada. As ruas eram sinuosas e constituídas de chão de pedra-mofa mato , a calçada era estreita como talvez fosse estreita. - é assim mesmo e ponto.
Era cidade feita ao porte de vila, porém com muito assunto para ser somente vila.Lá gente morria também - muitas vezes era só o que restava de assunto.
O que aconteceu foi que as casas eram bonitas e aconchegantes, com lareira, alimento, roupa e bicho de estimação. Mas as ruas eram cheias de pontos de encontro, havia quem bebesse e esquecesse e quem na vida jogasse o dinheiro fora, vida meio sem vida , sobretudo nos vícios. O que pretendiam com isso era apenas reflexo da alma. Como queiram “alma é tudo igual e arruma assunto na solidão ”
A força daquela gente sempre foi um par de amuletos, o do homem era trabalho e o da mulher dedicação.
Então quando nasce um dia qualquer, um dia de escolha perfeito e milimétrica isso numa cidade como aquela significava renovação. Havia fogos que estouravam, dança de roda, churrasco, sanfona, viola, batata doce, ponche e namoro.
Havia também o que há em qualquer lugar - a coisa chamada solidão. A pobre moça quis correr disso e inventou casamento na cidade. Na festa teve de tudo até tiro.O balaço foi certeiro, o condenado não tinha nada com a historia, até porque o acontecimento tinha que ser marcante. A tal cidade mudou novamente na medida da necessidade e até que as pessoas repensaram, mas é muito provável que os dias que se seguiram foram diferentes.

domingo, 2 de novembro de 2008

Química que tudo Trava

Eu quero matar o tempo
porque enquanto penso o tempo passa
Eu quero matar o tempo
Não quero um gole
Eu quero um soco na cara do tempo,
Sei que ele morre
Enquanto vivo....
Eu quero matar o tempo
dentro duma química que reorganiza

domingo, 19 de outubro de 2008

Eloá Pimentel: Quando não escutaram Freud


“Em psicologia e psiquiatria, o narcisismo muito excessivo e o que dificulta o individuo a ter uma vida satisfatória, é reconhecido como um estado patológico e recebe o nome de Transtorno de personalidade narcisista. Indivíduos com o transtorno julgam-se grandiosos e possuem necessidades de admiração e aprovação de outras pessoas em excesso.”

( Freud, Sigmund, Narcisismo: Uma Introdução, 1914)


Num estampido, foi dessa forma que se encerrava a vida de Eloá Pimentel de 15 anos. Mas o que motivou o ocorrido, o que alimentava e dava força a Lindemberg Alves e sua mente duentia? A resposta é simples todos nós.
Não e fácil fazer uma afirmação desse e continuar o texto, mas pensemos no incerto acima e no desenrolar do caso. Temos então primeiramente a referência ao mito grego de Narciso, que se julgava dono de infinita beleza, que ao rejeitar o desejo da jovem Eco, foi punido pelos deuses em contemplar eternamente e de forma descontrolada sua própria beleza, fato este que o levou à morte por afogamento num rio.
Na história de Eloá o que difere é que quem foi rejeitado foi Narciso, portanto Lindembergue, porém o que confere é que este Narciso também não aceitava o desejo de Eco, neste caso Eloá , desejo este que neste caso era descartá-lo de sua vida.Porém aonde estava o "rio de Lindembergue " ( seu espelho de contemplação) ?
É na mídia que encontramos a resposta foi ela quem nutria a todo momento as forças de Lindembergue, a mídia de Sônia Abrão, Globo, Record e todos os etc.
Era no reflexo desde rio que Lindembergue via-se como dono da situação, dono de Eloá, dono de nossas atenções, era lá que via seu rosto, como dito nas palavras de Nayra em depoimento “ Ele se intitulava O Príncipe do Gueto” - Lindembergue és pop.
De fato ficou dono, por 100 horas, da situação, mas logo foi cedendo sua alma para o “diabinho” que segundo suas próprias palavras falava para ele terminar logo com aquilo e foi assim que fez Narciso acabou mergulhando no rio, dando fim a sua ficha limpa, a sua carteira de trabalho e a sua vida, pondo o rosto para mídia, um rosto repleto de marcas, sangue, vítimas e agonia.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Homem mais importante do Ano Ou O Código Mágico

Velani Yasquez dispôs suas telas na sala Cezane da Pinacoteca e bem ao centro espreitava a qualidade e a posição de suas obras. As persianas permitiam a boa iluminação e o próprio sol ostentava em suavidade e equilíbrio aqueles tons e traços tão melancólicos e ocultistas.
Há anos Velani almejava a oportunidade, sempre fantasiava situações de autógrafos e fleshes desordenados. Sonhava com o brilho do mundo das artes. Suas técnicas um dia seriam reconhecidas? Teria afinal o lazer das grandes exposições? - e deste pensar saltou para fora:
“Preciso registrar isto, realmente ficaram ótimas, talvez fosse esta sala, gostei do ambiente” – falou baixinho enquanto maneava a própria máquina fotográfica.
Era curador da Pinacoteca, Fiorim, surgia apoiado numa bengala que, na lentidão de sua velhice, produzia um som estranho, mas um eco necessário à atenção de Velani.
. Num aperto de mãos delicado, deu boas-vindas a Velani. Era uma belíssima mulher, talvez quarenta anos. - pensou Fiorim
Ambos caminhavam, Fiorim sempre observavando as telas já tecendo um veredicto quanto à qualidade artística. Percebeu que a artista privilegiava tipos raros como, bêbados, prostitutas, travestis, mendigos. Até mesmo brigas de bares com facas e sangue escuro escorrendo havia. Algumas retratavam também profissões menos onerosas como, camelos, garçons, engraxates e pedreiros.
Com sua experiência poderia dizer algo útil acerca das telas, a faria mais feliz, afinal valeria a pena? Sim... ela era uma bela mulher – suas idéias saltitavam interiormente e ele resolveu falar:
―– Percebo que a senhora conta com um trabalho diferente, são tipos sociais não são?
―– Sim. Procurei mostrá-los numa situação cotidiana, não sei se atingi a essência.
―– Eu aqui nunca vi nada assim. Gostei da maneira que as profissões dos trabalhadores são representadas, o ar de dificuldades e insatisfação é perfeito. Seu estilo é dramático e marcante, seus temas parecem que ganham vida quando olham pra gente. Aliás, às vezes sinto que há, em algum lugar, um mundo próprio pras pinturas, um mundo divino, não acha?
―– Pode até ser que sim. Muito obrigada pelos elogios.
―– È..., mais sinto falta dos outros cotidianos, o dia-a-dia dos ricos, por exemplo.
―– È que o espaço era pouco, e tive que fazer uma seleção. Mas também não as acho tão interessantes assim, parecem pinturas vazias num cotidiano meio “café-com-leite’. E na verdade até passei a achá-las insólitas pro mundo das artes.
“ Que pirainha abusada... ela diz isso como se tivesse nojo da sua conta corrente.” - foi o que pensou Fiorim.
Velani não imaginava a fagulha que havia acendido. Fiorim era tido, pelo menos para si mesmo, como um exímio crítico de artes.
―– È uma pena, espero que da próxima vez tenhamos a oportunidade de receber a exposição por completa. – disse Fiorim
―– Ah sim, quem sabe. Depende muito da aceitação e da sensibilidade do público e da critica, não acha?
―– È.verdade.- disse Fiorim
Fiorim cumpriu seu trabalho com cordialidade e logo tratou de querer seus afazeres, por isso, dissimulou a conversa despedindo-se da pintora. Velani retomou suas fotos, porque logo o público começaria a circular.
Fiorim há anos trabalhava naquela pinacoteca, gostava do seu trabalho, contudo sua idade já lhe causava muitas preocupações e o que queria mesmo era, muito em breve, poder morar com sua esposa, no sítio que a haviam comprado em Juquitiba. Suas duas filhas já haviam terminado a faculdade e estavam realizadas no casamento e no trabalho. Tudo ocorria exatamente como havia planejado.
Fiorim estava prestes a entrar na sua sala, levou a mão esquerda à maçaneta e com alguma força começou a girá-la e antes mesmo que conseguisse girá-la por completo e antes mesmo que conseguisse ganhar a sala, viu saltar, bem lentamente, de suas idéias, uma idéia que era mais dolorosa que a idéia dos pregos que rasgam a mão do crucificado em profundidade, que era também, mais letal do que o brilho ensangüentado que as laminas metálicas das guilhotinas francesas possuíam quando subiam as alturas já cumprindo a execução. Fiorim sentia a sensação cleptomaníaca dos enfermos que vivem enclausurados no cubo de seus quartos e bem presos aos aparatos de vida artificial. Como seria um peixe velho descobrir o rio fora do aquário? Morreria talvez? Fiorim sentiu pela primeira vez. que havia um outro mundo além do seu umbigo.
Era o fim dramático da sua estampa vida-perfeitinha, entre outras palavras, Fiorim concluiu que sua vida era realmente uma bela porcaria.
Fiorim sentia que não havia vivido plenamente sua vida, porque não era plenamente que viviam as pessoas de vida muito provável. Velani estava certa, ele não merecia mesmo ser representado numa pintura, pois não havia o que pintasse dele.
Fiorim nunca havia “trepado” com uma prostituta, como seria? Fiorim nunca havia pensado no mundo dos bêbados, como seria? Seriam felizes? Come seria a vida dos mendigos? Como seriam os tecidos, como seriam os sapatos, como seriam os aparelhos e como seriam as roupas vendidas nas barraquinhas dos pobres? Como seriam então todas as outras vidas? Fiorim entrou num estágio mental que o resumia. Teve a brilhante idéia de acender um cigarro. Sentou diante de sua mesa que era na verdade uma mesa tão administratção-empresa. Tratava-se duma mesa feita com madeira escura, uma relíquia vinda do Líbano, sua superfície era coberta por um vidro cortado ao justo tamanho do móvel. Projetou-se para pegar o cinzeiro que estava no canto da mesa, mas o movimento fez com que, seu cotovelo lançado, joga-se sua bengala ao chão, com tamanha força que sua bengala deslizou e parou ao lado da única estante vazia, dentre as inúmeras estantes que circulavam aquela sala, que na verdade também inalava o ar das coisas velhas.
Eram cerca de três metros, mas aquilo o irritava profundamente, pois sabia das limitações de seu corpo. Eram alguns pinos de platina e uma osteoporose rara nos homens que o limitaria?- pensou Fiorim.
Levantou-se imponente, beirou a parede com apoio do braço esquerdo, e quando chegou próximo à bengala, precisou inclinar o corpo, flexionar os joelhos e teve como único apoio, para todo seu peso, uma das prateleiras daquela estante. Mas antes que conseguisse ter em mãos sua maldita bengala, a prateleira se soltou, despencando junto com Fiorim, sua cabeça foi contra a quina da estante e caiu ficando estatelado no chão.
Há um momento de silencio.
Fiorim levanta-se, abre os olhos e espia a seu redor.
Lembrou da bengala e se recompôs. Odiava cada vez mais Velani e sua maldita exposição, foi quando brotou - soberba como erva daninha na causada - uma terrível maldade. O velho foi até a mesa, abriu a gaveta e tomou em mão um canivete que, com precionar dum botão polegar subia e desci uma lamina prateada. Ficou olhando a lâmina e seu movimento por algum tempo e abriu um sorriso de satisfação. Fiorim pôs o canivete no bolso e ganhou o corredor em direção à sala Cezane.
Na sala havia um silencio absoluto e um frio tomou a pele de Fiorim.
“Este ar condicionado está desregulado de novo....”- pensou Fiorim.
Velani não estava mais lá. “Pra onde foi.., talvez esteja circulando pelas outras salas” - enquanto pensava isto, Fiorim projetou seu olhar para as pinturas e percebeu que elas, agora, só contavam com a molduras. “Onde estão as telas! Será que ela as levou?”- foi o que murmurou.
De repente ouviu um cantarolar muito baixo, parecia vir de outra sala. Foi lentamente, junto à parede até o fundo da sala e percebeu que havia restado uma única pintura. Talvez Velani voltasse para pegá-la – pensou
A pintura retratava um mendigo bêbado deitado de costas para quem via a tela. Estava bem à vontade num banco de braça. O mendigo vestia um terno que era bem representado pelos tons escuros (marrom e preto), era a sujeira em si. Os pés descalços tinham calcanhares pretos como carvão. Vestia uma calça que talvez fosse bege. Coberto por jornal, dormia junto a um saco de lixo e no chão havia uma garrafa, talvez água-ardente.
Fiorim sacou decidido do canivete que produziu o som do estalar de sua maldade, ergueu-o à altura dos ombros, mas ainda ficou contemplando sua maldade, pois, por alguns segundos, precisava daquilo.Entretanto, o que venho foi que o silêncio daquela sala se rompeu novamente por um cantarolar desafinadamente baixo. “Mas da onde vem?” – pensava Fiorim enquanto ia aproximando seu ouvido da pintura e percebendo que era de lá a origem da tenebrosa melodia
“Meu Deus.... “ - pronunciou Fiorim em desespero
Aproximou o canivete e antes que lamina rompe-se a tela, dela ouvi-se uma voz que pareceu saltar da pintura:
―– Não, não, não, não, não. Pode parar com isso vovô – disse o bêbado se virando para Fiorim dentro da pintura e pondo-se sentado no banco.
―– Jesus Amado o que é isso! – disse Fiorim.
―– Olha vovô, não seja tão chato assim. Todos já foram embora e por sua causa sabia? Eu resolvi ficar mais um pouco pra curar a ressaca – disse o bêbado
―– Todos quem ? – questionou Fiorim
―– Todos que estavam na pinturas vovô. Ficaram constrangidos com sua presença. Você é um cara muito chato mesmo sabia? – disse o bêbado que esvaziou o último gole de sua garrafa.
Aquilo muito irritou Fiorim, que ficou decidido enquanto recuava o canivete na intenção de ter forças suficientes para romper aquela maldita tela. Contudo Fiorim era um velho lento demais para aquele bêbado-pintado que logo lanço sua garrafa que atingiu, em cheio, a testa de Fiorim e o velho despencara no chão.
Há um silêncio. Fiorim abriu os olhos, estava muito atordoado, pôs a mão na testa, olhou para o chão e percebeu que havia um pouco de sangue, olhou a ponta dos dedos e confirmou que realmente havia se machucado. Mas quando olhou a sua volta, percebeu que estava em sua sala, viu sua bengala e concluiu que havia perdido os sentidos com a queda.
Levantou-se, repassou, mentalmente, a estranha estória, lembrou que nunca havia possuído um canivete automático e que aquela estória era realmente muito insólita.
No entanto, passaram-se alguns meses, Fiorim se aposentou e realmente foi morar num sítio em Juquitiba com sua mulher e nunca mais quis pensar no ocorrido, pois aquela estória lhe custara muitas noites de sono.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Muro de Mônica ou a Polêmica do adeus

Se é que se vem apenas ou se é que se vai sempre, se deu assim - meio de sobressalto repulsivo - e assim surgido tal história-lembrança, por motivo que julgo desconhecido e com vaga clareza, salvo pelo impacto percebido ao cruzar de sorrisos com igual semelhança, posso e concluo que me retorna parcialmente esse fardo. É então que vamos.! Simples e melancólica, era assim naquele tempo, até ouvir alguns barulhos na vizinhança, desses de chegada de moradores. Barulhos no mundo, do mundo que não era meu. Tratava-se de gente nova. Gente que em meu mundo passava a habitar e ao entorno em princípio.
E está aí o fato, pois tenho bem clara a imagem daquele dia. Estava abrigada por um imenso quintal, com flores, pés de manga e goiaba.É nele que me encontrava com minhas pequenas idéia e, ainda que estivesse sem vontade de brincar e, ainda que, todos sempre me deixassem, fui bem ali descoberta e logo aos sete anos. Foi sentada num banco de madeira escura que pude observar o mexer e remexer nas ramagens verdes da trepadeira do muro. Surgiu primeira a ponta da escada, depois ele “Ei menina, viu minha bola?” Corri para dentro de casa, e ele continuou gritando por algum tempo. De repente, em mim, corri. E em seguida corri ao encontra de uma realidade inevitável, chamada Pedro. Sei que o tempo para ambos foi suficiente e nos ensinou tudo, ficamos amigos e não foi a muito custo. E sempre que minha mãe saia ao trabalho, eu preferia esperar que ele me chama-se, ao invés do contrário, pois ainda me restava o jardim que estava sempre limpo e pronto a novas descobertas. Quanto à empregada, dona Lúcia, vivia imersa em afazeres e pouco tempo restava para mim e é claro que em termos de atenção quase me resumia. Em hora oportuna bastava um assovio e Pedro logo surgia de cima do muro, às vezes, trazendo doces e brinquedos, principalmente nos fins de tarde. .Lembro-me de uma vez que motivada por fortes dores no abdômen fiquei a ponto de febre e Pedro trouxe, com atenção paternal, ervas a pedido de dona Lúcia. Houve uma certa ocasião que me exacerbei, na verdade sem jeito de responder e sem muito repertório de vida, a uma simples pergunta “O que aconteceu com seu pai Mônica?”. A minha reação conseguiu transforma-lo em puro acanhamento. Não se pode negar certos percalços na vida - foi o que aprendi. Porém, dia após dia ia-se descobrindo tudo o que é humano, seleto e construtivo e foi assim o quanto o tempo permitiu que fosse, mas diante do desvelar dele e das coisas, estava eu diante de um carro branco, um expresso definitivo para o adeus, frio e incisivo. E ao meu redor surgiam as tristes e secas notas de um saxofone dourado tocadas a fortes sopros por um negro de cabelos esbranquiçados. A melodia ecoava cada vez mais e mais longe, me convidando a segui-la. Como realmente segui até os dias de hoje. . Todos me disseram motivos improváveis e neles questionava muito e muito, arredava-me das suspeitas, mas hoje sei que o ainda tenho como construção e como legado de meu mundo de mulher.